História

A História da Instituição começa em 10 de Abril de 1929, data em que a Assembleia de fundadores aprova os Estatutos de Inválidos do Comércio, que viria a revelar-se uma das associações de solidariedade, de cariz particular, de maior longevidade e com destacada importância na acção social em Portugal.

Sendo precursora de princípios que valorizavam a humanização e a personalidade daqueles que apoiava, foi um exemplo nos primórdios da época do “Estado Novo” e mantém-se até aos nossos dias como uma das mais importantes associações do género em Portugal.

Livro comemorativo dos 80 anos de IC.

Iniciou a sua actividade, com vocação para “internato de assistência particular”, numa casa alugada no Paço do Lumiar (a Quinta do Paço) onde actualmente funciona a secção infantil do Colégio de Manuel Bernardes. Em 1930 já acolhia 20 idosos e rapidamente alargou a sua actividade a orfanato, cozinha social e apoio pecuniário a desempregados do comércio. Em 1934 eram 48 os internados, o orfanato tinha 4 pupilas e a cozinha fornecia 300 refeições diárias para o exterior.

Índice do Livro

Introdução do livro

Currículo dos Autores do Livro (2010)

Sem quaisquer apoios do Estado, a actividade era custeada pelas quotas dos associados e, principalmente, por um grande esforço de propaganda e de angariação de fundos que desde o início decorria sob a direcção de uma comissão de propaganda.

Foram criadas delegações por todo o país e mesmo nas colónias e, em 1932, o fundador Alexandre Ferreira considerava existirem cento e tantas delegações. Até à década de 70 todas as obras foram suportadas por donativos de beneméritos e por fundos recolhidos pelas acções de propaganda que incluíam a realização de grandes sorteios, com venda de senhas por todo o país, que além da recolha de fundos contribuíam para a divulgação de Inválidos do Comércio.

Em 1935, liderados por Alexandre Ferreira, o grande impulsionador de Inválidos do Comércio e actual patrono, que presidiu à Direcção desde a fundação até 1950, era notória a exiguidade das instalações para fazer face às necessidades.

Decidiu-se então a aquisição da Quinta do Outeiro, onde agora está instalada a Casa de Repouso Alexandre Ferreira (CRAF). A escritura realizou-se a 19 de Agosto. Numa época de grandes nomes da arquitectura e de projectos megalómanos, com obras de grande vulto, tornava-se necessário recorrer a arquitectos de renome nacional para garantir o modernismo que se desejava imprimir nas novas instalações.

Dando cumprimento a essa premissa foi aberto um concurso em 1936, para apresentação de ante-projectos, que foram expostos na Sociedade Nacional de Belas Artes, sendo os arquitectos Tertuliano de Lacerda Marques e Luís Cristino da Silva os autores do projecto vencedor.

As obras de construção da Casa de Repouso na Quinta do Outeiro tiveram início em 23 de Abril de 1937, houve uma inauguração em 31 de Março de 1938 e a primeira fase de obras foi concluída em 1941. Nos anos seguintes acentuou-se a preocupação com a exploração agrícola da quinta como meio de apoio à economia da associação e a ampliação e melhoria das instalações.

Em finais de 1943 abre as portas o edifício dos “Serviços Clínicos Manuel António Dias Ferreira”, reservado aos doentes e, em 1946, num edifício na Estrada do Desvio, é instalada a Secção Feminina, pioneira na sua qualidade. Na quinta, dá-se então início à construção do novo edifício, prolongamento do então existente, com capacidade para instalar 224 utentes.

Eram os anos de ouro de Inválidos do Comércio. A sala de jantar rompe os modelos tradicionais de asilo, com mesas para quatro pessoas, diariamente adornadas de flores frescas, porcelanas, cristais do aparelho, louças e talheres, que continuavam a fazer a diferença da usual apresentação pobre dos asilos e albergues. A cozinha foi equipada com o mais moderno equipamento, ao que se sabe importado da Alemanha. A sala de visitas e a sala de estar eram um prolongamento do conforto e do luxo desta unidade de solidariedade social, vista como se fosse um hotel. A barbearia era descrita como tendo cadeiras giratórias e grandes espelhos de cristal.

Do mesmo modo, destacavam-se as restantes dependências como sanitários, com novos balneários e chuveiros, num rasto de espanto e contentamento para os seus residentes e para os maravilhados visitantes.

Porque a cultura passa a ser uma das valências prestadas aos utentes, surge um espaço de cultura com a criação de uma biblioteca, cuidada por bibliotecário, composta com cerca de 2000 volumes. Em 1948 o número de utentes homens era 146, na secção feminina havia 15 mulheres e o orfanato tinha 10 pupilos. Nesse ano registavam-se já 31.570 sócios.

Em 28 de Dezembro de 1952 a Casa de Repouso Feminina passou da Estrada do Desvio para um novo pavilhão da Quinta do Outeiro. A persistência na afirmação da associação e na qualidade dos serviços que proporcionava aos sócios, levou a um constante aumento do número de associados e, consequentemente, à necessidade de ampliar as instalações para albergar um número cada vez maior de utentes necessitados.

Em 1960 estavam registados 42.614 associados e o número de utentes era de 259 homens, 80 mulheres e 22 pupilos (14 rapazes e 8 raparigas). Estes números foram continuando a crescer, registando-se em 1970 um total de 43.733 sócios e 287 utentes homens, 166 mulheres e 48 pupilos (21 rapazes e 27 raparigas). Na década de 60, com o início da guerra colonial, tornou-se cada vez mais importante a exigência do incremento da actividade social, todavia, as acções de propaganda e recolha de fundos já não conseguiam suprir as necessidades.

A Direcção viu-se então obrigada a proceder a diversas operações de venda de património e a pedir apoio à Fundação Calouste Gulbenkian que viria a ser considerada sócio benemérito da associação.

Após a revolução de 25 de Abril de 1974 a vida de Inválidos do Comércio sofre alterações importantes. Descrições dessa época eram em tudo optimistas e a Quinta do Outeiro era descrita como uma enorme propriedade de verdes campos, centralizada pela construção residencial e correspondentes serviços de apoio. Constituía-se de pavilhões individuais para homens e mulheres, distribuídos por cem quartos, ao que se sabe desfrutando de todo o conforto, que ecos de publicações desta casa assim descrevem; (…) há bonecas sobre a cama, jarras de flores, cestinhos de fruta, fotografias de filhos e netos (…). Deste equipamento faziam parte modernos quartos de banho e duas salas de convívio, mais uma vez com separação de géneros. Os homens eram ainda contemplados com uma sala de jogos, enquanto se destinava uma sala de costura para as senhoras onde, segundo crónicas, (…) se entretinham confeccionando peças de roupa, arranjando os seus próprios fatos, engomando os seus lencinhos (…).

A oferta de serviços ainda incluía uma moderna lavandaria e uma engomadoria. Mas, a situação económica era de crise inegável e indisfarçável. As mudanças estruturais da sociedade, que então se verificaram, não deixaram de afectar a Instituição. Aparentemente tudo continuou a funcionar: Não houve saneamentos, dada a autoridade que as Direcções possuíam através da sua obra grandiosa e esforçada; houve continuidade de colaboração com as autoridades oficiais. No entanto, houve alterações profundas na vida institucional.

Num primeiro momento, o Estado procurou nacionalizar as Instituições. Esse objectivo não foi conseguido em Inválidos do Comércio porque não detinha capacidade para dirigir esta Instituição baseada em voluntariado. Além disso, as instituições nacionalizadas baixavam o nível dos serviços prestados. O salário mínimo nacional subiu para 3.300$00 e Inválidos do Comércio não possuía capacidade para tal aumento dos salários dos trabalhadores.

Acresciam as obras que se verificavam na Enfermaria, que tiveram de ser paradas, só sendo reatadas anos mais tarde e com apoio estatal. Com esta situação faltou dinheiro até para pagar aos fornecedores. A Instituição chega a dever 5 meses aos fornecedores de peixe e de carne.

O ano de 1978 trouxe grandes mudanças estruturais na instituição Inválidos do Comércio. A partir deste ano a assistência social, até aí apenas destinada a contemplar população na área do comércio, passa a estender-se à população não ligada a esta área. A razão subjacente prendeu-se com a integração, em Inválidos do Comércio, dos Inválidos do Trabalho e do seu Albergue dos Inválidos do Trabalho, por Despacho do Secretário de Estado da Segurança Social, passando a designar-se Casa de Repouso Possidónio da Silva (CRPS).

Com 12 000 metros quadrados de terreno próprio, na freguesia dos Prazeres, em Lisboa, ali passam a residir 115 pessoas (100 homens e 15 mulheres) e um Centro de Dia frequentado por cerca de 40 utentes diários.

Na Casa de Repouso Alexandre Ferreira residiam 320 utentes. Entretanto terminara o pupilato em regime interno, subsistindo poucos casos a viverem em ambiente familiar. Iniciou-se assim, uma época de dependência de subsídios do Estado para continuar a cumprir os objectivos estatutários.

A Associação não acabou, como tantas outras, devido ao trabalho das Direcções, ao esforço dos Associados e porque os seus objectivos a tornavam imprescindível no ambiente que se vivia e nas necessidades que se faziam sentir a nível nacional.

Mesmo apoiada pelo Estado, foi sempre uma Instituição independente e isenta, com raízes fortes naqueles que na sociedade lhe davam o seu vigor e a sua energia. Isto é muito raro em Portugal, onde a tradição é viver encostado ao Estado. São, no entanto, anos difíceis os que se seguem, sempre com a incerteza quanto ao montante dos financiamentos.

O número de instituições de apoio social aumentava por todo o país e generalizava-se o direito à reforma. Com essas novas condições, o número de novos sócios de Inválidos do Comércio ia decrescendo e em contrapartida cresciam as necessidades dos existentes.

Manter a qualidade da acção social que se desenvolvia obrigou em diversas ocasiões à venda de algum património. O início da década de 90 do século 20 é marcado por acontecimentos contraditórios.

Um violento incêndio, em Setembro de 1991, destruiu parte importante do edifício central e as coberturas mas, por outro lado, o prestígio da Instituição permitiu que a campanha de solidariedade que se gerou, para ajudar a restaurar as instalações, se traduzisse num novo fôlego na vida associativa. Donativos e o produto de alienação de bens imóveis vieram possibilitar a execução da projectada obra de “ampliação do refeitório e da lavandaria da CRAF” e a tão necessária renovação do equipamento básico do referido estabelecimento social.

Ainda nesta década se deu início a uma campanha de obras de reconstrução nas diversas alas da construção que foram denominadas de Fases. A 1ª Fase com inauguração da Ala José Manuel Dias, em 1996, que contemplou a implantação de quartos de rendimento possibilitando o aumento de proventos da Instituição. As 2ª e 3ª Fases arrancaram ainda nesse mesmo ano e com elas se reformulavam os Serviços Administrativos, Refeitório, Cozinha, Lavandaria, Engomados, Rouparia, Serviço Social e Caldeiras de aquecimento de águas.

Em Outubro de 2001 foi desactivada a Casa de Repouso Possidónio da Silva devido ao estado de grande degradação a que chegaram os edifícios, sendo os seus utentes integrados na Casa de Repouso Alexandre Ferreira.

Registe-se também que já em meados da década de 80 se desenvolveram esforços no sentido de rentabilizar, com eventual alienação, o terreno da CRPS, chegando a haver projectos para essa área que, todavia, nunca tiveram andamento.

Ainda em 2009 houve novas iniciativas no mesmo sentido que também não tiveram continuidade. Inválidos do Comércio continuavam a sua actividade e o esforço de fazer cada vez mais e melhor.

Em 2007 eram inauguradas as obras da 4ª fase, com a construção de um segundo piso em parte do Edifício Central, com quartos duplos com casa de banho, era remodelado o Salão Nobre (Sala Alexandre Ferreira) e no piso inferior eram criadas boas condições para as actividades de lazer dos utentes. Mais recentemente foi remodelada a sala de fisioterapia e instalados dois novos elevadores que facilitam a mobilidade.

Inválidos do Comércio têm um segredo: A inteligência e a vontade dos seus criadores e fundadores. São as duas portas que devem abrir-se para a concretização de qualquer sonho válido. Sonharam à distância e elaboraram as realizações pensadamente, passo-a-passo.

Assim a obra cresceu e assim a obra se há-de manter. E esperamos que seja por longos anos, pois preenche um vazio que absorve as existências e que devia ser solucionado por quem tem a obrigação, em nome do povo português, e se limita, frequentemente, a levantar obstáculos e burocracias em nome de um ego nunca satisfeito.

O respeito pela História de 84 anos (em2013) e pelos princípios e objectivos desta obra, constituem o incentivo maior para que Sócios, Direcções e Trabalhadores tudo façam para que se acrescentem muitas mais páginas de sucesso a esta história.

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